Que a amamentação faz bem para a saúde física e emocional do bebê, a ciência não tem dúvidas. Mas um novo estudo reforça a hipótese de que esses benefícios possam ser ainda mais duradouros, com repercussões depois da primeira infância.
Crianças que mamaram no seio materno por pelo menos 6 meses se mostraram mais inteligentes aos 8 anos de idade em uma pesquisa com centenas de voluntários divulgada na penúltima edição da publicação científica brasileira Jornal de Pediatria, do bimestre julho/agosto.
O trabalho tem algumas contribuições fundamentais para o tema: foi realizado no Brasil, na cidade de Pelotas, no Rio Grande do Sul, uma vez que as referências científicas sobre o assunto usadas no País são quase sempre internacionais e há poucos dados recentes.
Além disso, a metodologia empregada no trabalho permitiu excluir possíveis fatores de interferência nos resultados, como a escolaridade da mãe, a renda familiar e o nível socioeconômico da família. Para o estudo, foi considerada uma amostra aleatória de 30% de todos os nascimentos ocorridos em hospitais públicos de Pelotas entre setembro de 2002 e maio de 2003. Depois, as crianças foram acompanhadas aos 30, 90 e 180 dias de vida. Por último, aos 8 anos, passaram por um teste para medir o coeficiente de inteligência, conhecido como teste de Raven. Chegaram à etapa final do processo 560 crianças.
As crianças amamentadas por pelo menos 6 meses, mesmo nos casos em que o aleitamento materno não foi exclusivo, tiveram um desempenho superior no teste de Raven em relação às demais. O estudo foi conduzido pela médica pediatra Ana Fonseca, durante seu mestrado em Saúde e Comportamento pela Universidade Católica de Pelotas. A profissional falou exclusivamente ao site “Pílulas”. Veja alguns trechos:
O aleitamento materno, além de fortalecer o vínculo entre a mãe e seu bebê, traz benefícios já bem documentados à saúde infantil. Qual é o diferencial desse estudo?
Muitos dos estudos que estão na literatura científica sobre o tema são americanos ou europeus. Grande parte foi feita nos anos 1990, quando o tema foi amplamente pesquisado, e trata apenas dos benefícios a curto prazo. E há problemas metodológicos: os estudos não conseguiam separar fatores que podem interferir nos resultados, como a escolaridade da mãe e o nível socioeconômico da família. Na minha pesquisa, com o método da regressão logística, foi possível excluir esses fatores de confusão. E então, depois disso, foi possível comprovar que a amamentação sozinha, descontados os possíveis fatores de interferência, faz diferença no QI. Ou seja: isso ocorre independentemente de a mãe morar em uma favela ou numa boa casa.
Como foi possível mensurar essa diferença de QI?
As crianças que mamaram por pelo menos seis meses fizeram 2 pontos a mais que as outras no teste de Raven. Para a faixa etária de 8 anos, é possível dizer que essa diferença é de aproximadamente 5%. O teste de Raven mostra o raciocínio, ele é muito prático, está relacionado à habilidade de resolver problemas, por exemplo.
Fonte: INGR
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