“Por que como tanto?” “Por que pareço tão descontrolado comendo?” “Será que tenho problema com comida?” “Olho grande? Gula ou Compulsão Alimentar?” Perguntas comuns, entre tantas que passam pela cabeça de muitas pessoas e que geram conflitos, e até mesmo medo de que haja algo além do que uma simples vontade de comer a mais.
Antes de falar com mais detalhes da Compulsão Alimentar, farei uma breve introdução sobre Transtornos de Compulsão Alimentar. Estes, bem como suas formas subclínicas ou parciais, são quadros psiquiátricos que afetam principalmente mulheres adultas jovens e adolescentes, com elevada morbidade e mortalidade. Embora estejam classificados de forma independente, a Bulimia Nervosa (BN) e o Transtorno de Compulsão Alimentar Periódica (TCAP), estão intimamente relacionados. O TCAP difere da BN por não apresentar uso de comportamentos compensatórios. Porém pode existir episódios esporádicos de restrição alimentar e tentativas repetitivas de se submeter a dietas de emagrecimento, já que a maioria daqueles que sofrem de TCAP encontram-se acima do peso.
O TCAP caracteriza-se por compulsão alimentar seguida de angústia, sensação de falta de controle e ausência de comportamentos regulares voltados para a eliminação do excesso alimentar. De uma forma mais simples, pode-se definir pela ingestão de grande quantidade de comida em um período de tempo delimitado (até 2 horas), de maneira rápida, até o ponto de sentir-se "cheio" (desconfortavelmente "cheio"), acompanhado da sensação de perda de controle sobre o que ou o quanto se come. Em inglês, é conhecido como binge eating.
Estes episódios não são motivados apenas por uma fome "física". Embora períodos de restrição alimentar possam levar a ataques de compulsão. Mesmo que a fome "física" esteja presente, existem outros "gatilhos" de caráter psicológico, que podem variar, desde à ansiedade, como o medo de "falhar" ou de ser rejeitado, sentimentos e/ou ideias de inadequação, ou expectativas frustradas. Veja alguns exemplos:
• Ingerir uma quantidade excessiva de comida, mesmo quando não tem fome;
• Comer até se sentir desconfortavelmente cheio ou mesmo agoniado;
• Esconder hábitos alimentares devido a vergonha ou embaraço;
• Esconder comida para episódios de voracidade;
• Esconder embalagens vazias ou caixas de alimentos e gerar lixo em excesso;
• Comer constantemente enquanto houver comida disponível;
• Comer quando está sob pressão ou se sente psicologicamente diminuído/a;
• Sentir-se subjugado/a, envergonhado/a e/ou culpado/a durante e/ou depois de um episódio de voracidade;
• Exprimir repugnância em relação a hábitos alimentares, peso, corpo ou aparência;
• Expressar descontentamento com a aparência, peso ou autoestima.
A compulsão pode ocorrer de maneira espontânea ou planejada. Pode-se comer tudo que estiver "na frente" e disponível, sem critério entre paladar (comida fria, misturas de alimentos doces e salgados), nem qualidade (pode-se buscar alimentos no lixo, ou vencidos).
Durante os ataques de binge, o compulsivo alimentar chega a ingerir até 10 mil calorias em uma única refeição, tem preferência por guloseimas e se não tiver, come coisas estranhas ou altamente calóricas, do tipo: uma lata de leite condensado, feijão gelado com queijo, lasanha gelada e tudo que estiver ao seu alcance. Depois de um ataque alimentar, muitas vezes vem o arrependimento, a raiva e gera mais descontrole.
Um fato relevante a se frisar é que o indivíduo com TCAP não come por puro prazer, por que é desleixado ou gordo e sem vergonha. Ela tem uma doença, um desequilíbrio bioquímico dos neurotransmissores (mensageiros químicos do impulso nervoso) responsáveis pelo controle da saciedade. Quando os níveis de serotonina estão baixos, ocorrem a depressão e a tendência ao aumento de peso. Pois a comida, principalmente os alimentos energéticos tipo chocolates, doces, pães e massas, são estimulantes naturais de serotonina. Daí esses rompantes de fome ou vontade de atacar a geladeira.
Na realidade por traz deste comportamento compulsivo existe um problema psiquiátrico camuflado e uma dieta alimentar pobre em nutrientes, facilitando os rompantes de binge. Com o equilíbrio da serotonina e a mudança do hábito alimentar, a pessoa controla a ingestão de doces e fica satisfeita com o que comeu (saciedade).
O tratamento é multidisciplinar, o compulsivo terá que passar por uma avaliação médica para avaliar a sua saúde e o excesso de peso. Após esta avaliação, se houver problemas psiquiátricos o compulsivo terá que iniciar um tratamento com medicação para equilibrar a química cerebral, e melhorar os níveis de serotonina e dopamina, tratando também de uma suposta depressão. Aliado a isto terá que iniciar um processo de reeducação alimentar, com uma dieta equilibrada, com refeições frequentes e balanceadas, assim como, a prática regular de atividades físicas que auxiliam no equilíbrio nos níveis de serotonina e dopamina. Também, é importante a participação, quando existente, em terapia de grupos.
Fonte: Meu Nutricionista
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