O açúcar, pária nutricional repudiado há tempos por dentistas e nutricionistas, está gozando de uma segunda chance, agora como um ingrediente saudável e natural.
Do molho de tomate da Pizza Hut chamado "O Natural" ao refrigerante Pepsi Natural, recém-lançado nos Estados Unidos, algumas das principais empresas do mercado alimentício americano começaram, nos últimos meses, a substituir o xarope de milho rico em frutose pelo bom e velho açúcar.
A marca ConAgra usa apenas açúcar ou mel em seus novos pratos congelados. A Kraft Foods recentemente removeu o adoçante de milho de seus molhos para salada, e está trabalhando em sua linha de refeições e salgadinhos para viagens, chamada Lunchables.
A virada na dieta dos americanos acontece após três décadas de supremacia do xarope de milho rico em frutose sobre o açúcar. O consumo dos dois só chegou ao mesmo patamar em 2003, de acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. Recentemente, porém, a tendência se reverteu. Cada adulto americano comeu cerca de 20kg de açúcar em 2007, comparados com cerca de 18kg de xarope de milho rico.
"Açúcar era um demônio antigo e o xarope de milho rico em frutose é o demônio novo", disse Márcia Mogelonsky, analista-sênior da empresa de pesquisa de marketing Mintel International.
Com as vendas de açúcar em alta, a Associação do Açúcar encerrou no ano passado sua campanha "Sweet by Nature" (Doce por Natureza), que mostrou que o açúcar é encontrado em frutas e vegetais, disse Andy Briscoe, presidente da associação. "A demanda está obviamente indo na direção correta, então estamos dando um tempo", disse.
Considerado o culpado pela hiperatividade de crianças e estudado como uma substância viciante, o açúcar teve sua cota de problemas de imagem. Mas a crítica difundida ao xarope de milho rico em frutose - a primeira-dama, Michelle Obama, disse que não dá a seus filhos produtos feitos com o ingrediente - fez com que o açúcar parecesse bom em comparação.
A maioria dos cientistas não concorda. Apesar de as pesquisas ainda estarem em andamento, muitos especialistas em nutrição e obesidade dizem que açúcar e xarope de milho rico em frutose são igualmente ruins em excesso. Mas, como costuma ser o caso de afirmações sobre comidas concorrentes, a batalha é muito mais do marketing do que da ciência.
Alguns consumidores preferem açúcar de cana ou de beterraba, que são menos processados. O xarope de milho rico em frutose é produzido por uma série de complexas reações químicas que incluem o uso de três enzimas e soda cáustica.
Outros vêem a difusão do adoçante mais barato como um símbolo dos efeitos nocivos dos subsídios do governo concedidos de acordo com os interesses do agronegócio, como produtores de milho.
Mas o argumento mais comum tem a ver com o rápido crescimento da obesidade nos Estados Unidos, que começou nos anos 1980, não muito depois da invenção do xarope de milho rico em frutose industrial. Como a quantidade do adoçante na dieta dos americanos cresceu, os americanos também cresceram.
Apesar de a diferença de preço ter caído pela metade desde então, o xarope de milho rico em frutose chegou ao mercado custando até 20% menos do que o açúcar. E ele era mais fácil de transportar. Como resultado, o adoçante apareceu rapidamente em todos os tipos de produto, incluindo refrigerantes, pães, iogurtes, comidas congeladas e molhos para macarrão.
Mas com a ascensão recente do açúcar, os produtores de xarope de milho estão começando a se defender. No último outono americano, a Associação de Refinadores de Milho montou uma defesa multimilionária, garantindo que um anúncio que direcionava ao site da associação, sweetsurprise.com, aparecesse toda vez que alguém digitasse "açúcar" ou "xarope de milho rico em frutose" (em inglês) em alguns mecanismos de busca.
Em uma propaganda de televisão, uma mãe coloca ponche de frutas em um copo, enquanto outra a repreende porque o ponche contém xarope de milho rico em frutose. Quando pressionada a explicar por que isso é tão ruim, a mãe reclamona é mostrada como uma tola, emudecida.
Audrae Erickson, presidente da Associação de Refinadores de Milho, diz que os consumidores estão sendo enganados. "Quando descobrem que estão sendo iludidos a acreditarem que esses novos produtos são mais saudáveis, é um ângulo interessante", disse Erickson em uma entrevista.
Apesar de os pesquisadores estarem investigando os efeitos da frutose no fígado, na produção de insulina e em outros aspectos que possivelmente contribuem para o ganho excessivo de peso, nenhum grande estudo encontrou ligação definitiva entre o xarope de milho rico em frutose e problemas de saúde. A Associação Médica Americana diz que, em se tratando de obesidade, não há diferença entre o xarope e açúcar.
E, acrescenta Erickson, a FDA, agência americana que regula os alimentos, considera ambos como adoçantes naturais.
O médico Robert H. Lustig, endocrinologista do Hospital Pediátrico de São Francisco, da Universidade da Califórnia, afirma: "A discussão sobre qual dos dois é melhor, sacarose ou xarope, é bobagem. Ambos são igualmente ruins para a saúde."
Tanto o açúcar quanto o xarope de milho rico em frutose são feitos de glicose e frutose. O nível de frutose é cerca de 5% mais alto no adoçante de milho.
Lustig estuda os efeitos da frutose na saúde, particularmente no fígado, onde é metabolizado. Parte de sua pesquisa mostra que frutose em excesso - não importa a fonte - afeta o fígado da mesma forma que o álcool.
Mas tudo isso é irrelevante para alguns fabricantes de alimentos, que estão mudando para o açúcar como conseqüência de extensas provas de sabor e pesquisas com consumidores.
"Para os consumidores, a sua percepção é realidade", diz Jim Sieple, vice-presidente sênior do xarope Log Cabin, uma marca de 120 anos do Pinnacle Foods Group, que anunciou neste mês que havia parado de usar xarope de milho rico em frutose.
A volta do açúcar não é um movimento totalmente oposto ao adoçante de milho. Pesquisadores de mercado dizem que, com a economia tão instável, as pessoas querem controlar o que podem. Escolher comidas orgânicas, menos processadas ou supostamente naturais é uma maneira relativamente barata de fazer isso.
"De forma certa ou errada, isso significa que os consumidores estão mais atraídos pelo açúcar", afirma Kevin Higar, gerente sênior da Technomics, empresa de pesquisa de mercado.
Chefs e entendidos do assunto também estimularam a reabilitação do açúcar. Apesar de até um especialista em açúcar ter dificuldade de diferenciar entre o sabor do açúcar de cana ou de beterraba, alguns entusiastas elevaram o açúcar de cana a um status quase de culto.
A Coca-Cola feita com açúcar, para judeus que evitam consumir milho durante a Páscoa judaica, tornou-se tão popular entre os fãs do açúcar de cana que algumas lojas começaram a racioná-lo.
Na Jason's, uma rede de delicatessens com 200 restaurantes em 27 Estados, o açúcar de cana substituiu o xarope de milho rico em frutose em tudo, com exceção de algumas bebidas gasosas. "Parte disso é uma grande rebelião contra o xarope, mas parte é sabor", acredita Daniel Helfman, porta-voz da rede.
Para pesquisadores e nutricionistas que estudam obesidade e os efeitos do açúcar no corpo, a ressurreição do açúcar é enlouquecedora.
Pat Crawford, do Centro de Peso e Saúde da Universidade da Califórnia em Berkeley, lembra da época em que "açúcar" era uma palavra tão pesada que os fabricantes de cereais mudaram o nome de produtos, como o Sugar Pops para Corn Pops.
Ainda que o consumo total de adoçantes calóricos esteja começando a diminuir, Crawford diz que uma caloria vazia ainda é uma caloria vazia. E não importa se as pessoas pensam que o açúcar voltou a estar na moda.
"Se as pessoas realmente querem voltar para onde estávamos, isso significa não colocar açúcar em tudo", diz. "Quer dizer restringi-lo às sobremesas."
A marca ConAgra usa apenas açúcar ou mel em seus novos pratos congelados. A Kraft Foods recentemente removeu o adoçante de milho de seus molhos para salada, e está trabalhando em sua linha de refeições e salgadinhos para viagens, chamada Lunchables.
A virada na dieta dos americanos acontece após três décadas de supremacia do xarope de milho rico em frutose sobre o açúcar. O consumo dos dois só chegou ao mesmo patamar em 2003, de acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. Recentemente, porém, a tendência se reverteu. Cada adulto americano comeu cerca de 20kg de açúcar em 2007, comparados com cerca de 18kg de xarope de milho rico.
"Açúcar era um demônio antigo e o xarope de milho rico em frutose é o demônio novo", disse Márcia Mogelonsky, analista-sênior da empresa de pesquisa de marketing Mintel International.
Com as vendas de açúcar em alta, a Associação do Açúcar encerrou no ano passado sua campanha "Sweet by Nature" (Doce por Natureza), que mostrou que o açúcar é encontrado em frutas e vegetais, disse Andy Briscoe, presidente da associação. "A demanda está obviamente indo na direção correta, então estamos dando um tempo", disse.
Considerado o culpado pela hiperatividade de crianças e estudado como uma substância viciante, o açúcar teve sua cota de problemas de imagem. Mas a crítica difundida ao xarope de milho rico em frutose - a primeira-dama, Michelle Obama, disse que não dá a seus filhos produtos feitos com o ingrediente - fez com que o açúcar parecesse bom em comparação.
A maioria dos cientistas não concorda. Apesar de as pesquisas ainda estarem em andamento, muitos especialistas em nutrição e obesidade dizem que açúcar e xarope de milho rico em frutose são igualmente ruins em excesso. Mas, como costuma ser o caso de afirmações sobre comidas concorrentes, a batalha é muito mais do marketing do que da ciência.
Alguns consumidores preferem açúcar de cana ou de beterraba, que são menos processados. O xarope de milho rico em frutose é produzido por uma série de complexas reações químicas que incluem o uso de três enzimas e soda cáustica.
Outros vêem a difusão do adoçante mais barato como um símbolo dos efeitos nocivos dos subsídios do governo concedidos de acordo com os interesses do agronegócio, como produtores de milho.
Mas o argumento mais comum tem a ver com o rápido crescimento da obesidade nos Estados Unidos, que começou nos anos 1980, não muito depois da invenção do xarope de milho rico em frutose industrial. Como a quantidade do adoçante na dieta dos americanos cresceu, os americanos também cresceram.
Apesar de a diferença de preço ter caído pela metade desde então, o xarope de milho rico em frutose chegou ao mercado custando até 20% menos do que o açúcar. E ele era mais fácil de transportar. Como resultado, o adoçante apareceu rapidamente em todos os tipos de produto, incluindo refrigerantes, pães, iogurtes, comidas congeladas e molhos para macarrão.
Mas com a ascensão recente do açúcar, os produtores de xarope de milho estão começando a se defender. No último outono americano, a Associação de Refinadores de Milho montou uma defesa multimilionária, garantindo que um anúncio que direcionava ao site da associação, sweetsurprise.com, aparecesse toda vez que alguém digitasse "açúcar" ou "xarope de milho rico em frutose" (em inglês) em alguns mecanismos de busca.
Em uma propaganda de televisão, uma mãe coloca ponche de frutas em um copo, enquanto outra a repreende porque o ponche contém xarope de milho rico em frutose. Quando pressionada a explicar por que isso é tão ruim, a mãe reclamona é mostrada como uma tola, emudecida.
Audrae Erickson, presidente da Associação de Refinadores de Milho, diz que os consumidores estão sendo enganados. "Quando descobrem que estão sendo iludidos a acreditarem que esses novos produtos são mais saudáveis, é um ângulo interessante", disse Erickson em uma entrevista.
Apesar de os pesquisadores estarem investigando os efeitos da frutose no fígado, na produção de insulina e em outros aspectos que possivelmente contribuem para o ganho excessivo de peso, nenhum grande estudo encontrou ligação definitiva entre o xarope de milho rico em frutose e problemas de saúde. A Associação Médica Americana diz que, em se tratando de obesidade, não há diferença entre o xarope e açúcar.
E, acrescenta Erickson, a FDA, agência americana que regula os alimentos, considera ambos como adoçantes naturais.
O médico Robert H. Lustig, endocrinologista do Hospital Pediátrico de São Francisco, da Universidade da Califórnia, afirma: "A discussão sobre qual dos dois é melhor, sacarose ou xarope, é bobagem. Ambos são igualmente ruins para a saúde."
Tanto o açúcar quanto o xarope de milho rico em frutose são feitos de glicose e frutose. O nível de frutose é cerca de 5% mais alto no adoçante de milho.
Lustig estuda os efeitos da frutose na saúde, particularmente no fígado, onde é metabolizado. Parte de sua pesquisa mostra que frutose em excesso - não importa a fonte - afeta o fígado da mesma forma que o álcool.
Mas tudo isso é irrelevante para alguns fabricantes de alimentos, que estão mudando para o açúcar como conseqüência de extensas provas de sabor e pesquisas com consumidores.
"Para os consumidores, a sua percepção é realidade", diz Jim Sieple, vice-presidente sênior do xarope Log Cabin, uma marca de 120 anos do Pinnacle Foods Group, que anunciou neste mês que havia parado de usar xarope de milho rico em frutose.
A volta do açúcar não é um movimento totalmente oposto ao adoçante de milho. Pesquisadores de mercado dizem que, com a economia tão instável, as pessoas querem controlar o que podem. Escolher comidas orgânicas, menos processadas ou supostamente naturais é uma maneira relativamente barata de fazer isso.
"De forma certa ou errada, isso significa que os consumidores estão mais atraídos pelo açúcar", afirma Kevin Higar, gerente sênior da Technomics, empresa de pesquisa de mercado.
Chefs e entendidos do assunto também estimularam a reabilitação do açúcar. Apesar de até um especialista em açúcar ter dificuldade de diferenciar entre o sabor do açúcar de cana ou de beterraba, alguns entusiastas elevaram o açúcar de cana a um status quase de culto.
A Coca-Cola feita com açúcar, para judeus que evitam consumir milho durante a Páscoa judaica, tornou-se tão popular entre os fãs do açúcar de cana que algumas lojas começaram a racioná-lo.
Na Jason's, uma rede de delicatessens com 200 restaurantes em 27 Estados, o açúcar de cana substituiu o xarope de milho rico em frutose em tudo, com exceção de algumas bebidas gasosas. "Parte disso é uma grande rebelião contra o xarope, mas parte é sabor", acredita Daniel Helfman, porta-voz da rede.
Para pesquisadores e nutricionistas que estudam obesidade e os efeitos do açúcar no corpo, a ressurreição do açúcar é enlouquecedora.
Pat Crawford, do Centro de Peso e Saúde da Universidade da Califórnia em Berkeley, lembra da época em que "açúcar" era uma palavra tão pesada que os fabricantes de cereais mudaram o nome de produtos, como o Sugar Pops para Corn Pops.
Ainda que o consumo total de adoçantes calóricos esteja começando a diminuir, Crawford diz que uma caloria vazia ainda é uma caloria vazia. E não importa se as pessoas pensam que o açúcar voltou a estar na moda.
"Se as pessoas realmente querem voltar para onde estávamos, isso significa não colocar açúcar em tudo", diz. "Quer dizer restringi-lo às sobremesas."
Fonte: Terra
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